terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

"DROGA TEM PODER DE ALTERAR PERSONALIDADE, MAS NÃO O CARÁTER", AFIRMA ESPECIALISTA

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Desfechos trágicos de estruturas familiares minadas pelo uso da droga têm, nos últimos dias, se tornado manchetes frequentes nos noticiários pernambucanos. O Grande Recife foi palco, nos últimos oito dias, de dois crimes bárbaros em família que tiveram como motivação principal o uso abusivo de entorpecentes. Muitos têm se questionado até que ponto o efeito das drogas pode fazer com que um ser humano se volte contra alguém com quem divide laços dos mais profundos e indissolúveis.

Para o psiquiatra Carlos Gustavo Arribas, que atua no tratamento de dependentes químicos no Centro de Atenção Psicossocial em Álcool e Drogas (CAPS AD) - René Ribeiro, da Prefeitura do Recife, a droga tem capacidade de alterar profundamente o comportamento e a personalidade da pessoa.

"Sob o efeito da droga, o indivíduo perde o conceito crítico da realidade. Ele acaba tomando suas decisões baseado na paranoia que vive no período em que está sob o domínio da substância, então pode acontecer dele praticar uma grande violência ou mesmo cometer um crime contra pessoas próximas e depois se arrepender. Não quer dizer que esse seja o caráter dele", explicou o médico. 

Crimes premeditados, porém, não poderiam se encaixar em atitudes involuntárias, mesmo que no ato a pessoa estivesse sob o efeito de entorpecentes, de acordo com a perspectiva médica. De acordo com Carlos Arriba, o efeito de substâncias como o crack ou a cocaína dura de cinco a 10 minutos. A paranoia, porém, pode atormentar o indivíduo por cerca de uma hora.  

"Há casos específicos, quando o paciente já tem uma predisposição clínica para a paranoia (como uma carga genética à esquizofrenia, por exemplo), em que a paranoia pode permanecer por dias e dias. (...) Nesse momento, então, poderia haver uma premeditação de um crime, por causa dessa paranoia prolongada", disse ainda o psiquiatra. Para o médico, é imprescindível não criminalizar o dependente de drogas. "Mesmo situações como essas, lamentáveis, não devemos olhar para esses jovens como criminosos, mas como pessoas que estão doentes e que precisam de ajuda".

TRATAMENTO 
- O tratamento para os jovens dependentes químicos deve ser uma percepção da família, já que muitas vezes o usuário não admite que precisa de ajuda. Para evitar que os casos cheguem a situações extremas, como os últimos exemplos vistos em Pernambuco, a Secretaria de Saúde orienta que pais e mães de adolescentes em envolvimento com drogas procurem orientação em uma unidade de saúde próxima de sua casa. 

"Toda a nossa rede está capacitada para acolher tanto o usuário como a família do jovem. A estrutura que a Prefeitura do Recife vem montando, desde 2004, com a estruturação da política de redução de danos, vislumbra dar suporte à família independentemente do usuário estar ou não em tratamento", afirmou a gerente do Programa de Redução de Danos da Prefeitura do Recife (Mais Vida), Angélica Oliveira.

A rede municipal de saúde conta com seis Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) em Alcool e Drogas, além de quatro Casas do Meio Caminho (albergues terapêuticos voltados para usuários de álcool e drogas que precisam de internamento 24 horas) e seis equipes de Consultório de Rua, que são consultórios comunitários volantes, que vão até a casa dos usuários.

"Esse modelo de consultório é ideal para usuários que têm mais dificuldade de chegar ao serviço de saúde, como moradores de rua, garotas de programa etc.", completou a gerente do Mais Vida. Os CAPs conduzem os casos dos usuários com apoio dos Postos de Saúde da Família (PSF's) e Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF's).

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